O que o comércio de Pernambuco espera da política
Luciano Galvão Filho
Se a tônica da política têm sido os desentendimentos, ao menos um consenso parece existir: que a próxima eleição é das mais incertas dos últimos anos. E, quando há incerteza, há dúvida. Na economia isso se traduz em redução dos investimentos. Com as interrogações a respeito de quem passará a comandar o País, fica mais difícil prever o comportamento de variáveis como nível de emprego, poder de compra das famílias e crescimento da produção. Para evitar prejuízos, as empresas pisam no freio e tendem a não ir muito além daquilo que já fazem.
Diante das indecisões em torno da eleição, o Tribuna Parlamentar consultou pessoas de diferentes setores da economia de Pernambuco para saber o que elas aguardam da política após a definição das urnas e que pautas consideram essenciais para garantir um ambiente favorável aos negócios. Nesta edição, trazemos a primeira reportagem – de uma série de três matérias – abordando as expectativas do setor de comércio de bens e serviços.
Geração de renda
Nos primeiros três meses deste ano, faltou emprego para 1 em cada 3 pernambucanos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado inclui as pessoas que não têm trabalho e aquelas que poderiam ter um outro mas não encontram. Além do óbvio efeito sobre as famílias, a situação também repercute diretamente sobre o comércio: com menos gente empregada há também menos renda nas mãos dos consumidores, o que afasta as pessoas das lojas, adia as reformas nas casas, fazem cair as idas a restaurantes, e diminui a procura por escolas particulares, por exemplo.
“Enquanto tivermos o nível atual de desemprego, é difícil para o comércio porque as pessoas ficam sem poder de compra”, resume o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio), Josias Albuquerque. “Precisamos de uma política séria, que torne o quadro mais favorável aos negócios.”
“A gente já vê equilíbrios nos índices, mas ainda falta a recuperação, e estou falando dos empregos”, aponta Elísio Cruz Júnior, diretor do Sindicato das Empresas de Compra e Venda, Locação e Administração de Imóveis de Pernambuco (Secovi). “Por mais esforço que se faça, por mais dinheiro disponível com os bancos, os compradores ficam tímidos. Por isso, o mais importante é a confiança”, analisa.
Entre as ações para gerar um ambiente mais positivo para as empresas – o que pode resultar em fôlego à recuperação dos empregos – o presidente da Fecomércio cita a necessidade de apoio aos pequenos negócios e a redução de barreiras à atividade empresarial. “Temos recebido a compreensão do Poder Legislativo, em ouvir e corrigir algumas propostas que poderiam piorar o movimento do comércio”, sublinha Josias Albuquerque.
Política econômica
Um outro ponto que alimenta as incertezas é a dificuldade em saber como os próximos governantes vão cuidar das contas públicas. Um governo que gaste muito além do que pode termina por se endividar, algo que – no entendimento da maioria dos economistas – resulta em inflação. E aí, mais uma vez, cai o poder de compra das pessoas, que aos poucos deixam de conseguir, com um mesmo salário, dar conta de todos os compromissos. Sem falar que surge no horizonte a possibilidade de aumento de impostos.
“Nenhum dos nomes que têm se mostrado como opção são taxativos sobre a necessidade de se fazer um ajuste fiscal sério no País”, lamenta o vice-presidente do Sindicato do Comércio de Produtos Farmacêuticos de Pernambuco (Sincofarma), Elias Salomão, para quem o passo mais urgente nesse sentido é reformar a Previdência. Ele avalia que a despesa com as aposentadorias tende a impedir investimentos necessários em outras áreas.
Salomão analisa que o alívio produzido com a recente redução dos juros é temporário, e pode se desfazer ao primeiro sinal de aumento da inflação. Um aumento dos juros torna os empréstimos mais caros, e inibe os empreendedores. “Daí a necessidade de dar um freio nas despesas do governo. Se as pessoas ficam com receio, se não acreditam na retomada da economia, o mercado sofre”, avaliou, pontuando que, no setor dele, mesmo as grandes redes de farmácias têm visto as vendas retraírem. “Mesmo sabendo que o segmento de saúde é privilegiado, porque a população está envelhecendo e fazendo crescer a demanda por medicamentos, quando faltam recursos, falta para todos.”
Segurança
Todos os dias a polícia registra 275 roubos e furtos, em média, no Estado. Há cinco anos, eram pouco mais de 140. Um aumento tão acentuado dos crimes contra o patrimônio piora a sensação de insegurança e também repercute sobre o movimento das lojas. “O comércio tem relação direta com a circulação de pessoas. No momento em que o cidadão se sente mais seguro, ele sai às ruas, inclusive acontecem mais aquelas compras por impulso, e a roda do mercado gira”, descreve o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL Recife), Cid Lôbo.
Entre as medidas que poderiam contribuir para a redução dos crimes, o empresário sugere um planejamento de segurança próprio para as áreas de comércio das cidades. “O próximo governo precisa ter esse enfoque também para garantir um ambiente mais favorável à retomada da atividade econômica”, pontua Lôbo.
Incentivo ao turismo
Divulgação de Pernambuco como destino turístico pode emprestar ânimo a diferentes setores da economia que giram em torno das atividades de lazer e produzem empregos. Vice-presidente da Fecomércio para assuntos de Turismo, Eduardo Cavalcanti cita a necessidade de encontrar soluções para reduzir os ataques de tubarão no Recife – que afastam visitantes – e diz que as cidades precisam melhorar a infraestrutura para receber as pessoas. “O Legislativo pode destinar recursos do Orçamento para os polos do turismo”, sugere.
Diálogo com o setor
Consenso: importância de preservar a comunicação entre o setor de comércio e a gestão pública
Porque as decisões dos governos têm efeitos sobre a atividade comercial, os representantes do comércio são unânimes em dizer que é preciso manter conversas constantes entre o setor e a gestão pública. “O Estado muitas vezes nos cobra coisas completamente inadequadas e que atingem sobretudo as empresas menores, que têm menos condições de cumprir novas exigências. Precisamos de contato permanente com quem toma as decisões para que pautas prejudiciais à economia não avancem”, pontua Elias Salomão, do Sincofarma. “Às vezes, falta informação e são feitas escolhas pouco técnicas. Estamos abertos a sermos ouvidos para trabalhar em parceria”, diz Eduardo Cavalcanti, da Fecomércio.